Histórico do IPMet

IPMet - Centro de Meteorologia de Bauru


Para contarmos a história do IPMet – Centro de Meteorologia de Bauru temos que retroceder no tempo, mais precisamente à década de 1960, quando Bauru foi agraciada com a criação de uma instituição municipal de ensino superior que marcaria para sempre a vida da cidade: a Fundação Educacional de Bauru-FEB, instituída pela Lei Municipal 1.276, de 26 de dezembro de 1966, e assinada pelo prefeito da época, Dr. Nuno de Assis.

O objetivo inicial da instituição era a implantação da Faculdade de Engenharia de Bauru, com um Colégio Técnico a ela vinculado, que ofertasse cursos visando a preparação de jovens para o mercado de trabalho.

Num segundo momento, o plano era a implementação de outros cursos de nível superior, de pós-graduação e atualização profissional.

Em 1967, a FEB, já em funcionamento, começa a buscar a implantação de uma área de pesquisa para subsidiar uma possível pós-graduação, e, para ser interessante à instituição, a área teria que atender a dois requisitos principais: possuir natureza multidisciplinar e apresentar potencial para atração de recursos de agências de fomento, já que os financiamentos seriam disputados com instituições tradicionais e de reputação já consolidada.

A área da meteorologia mostrou-se adequada aos propósitos da FEB. Um dos motivos para isso é que, à época, a FAPESP vinha desenvolvendo ações de fomento na área, considerada insípida no país, e, portanto, carente de investimentos.

Em 1969, é implantada uma estação de rastreamento de sinais de satélites meteorológicos, localizada no prédio da FEB, na Vila Falcão.

Na recém-implantada estação os trabalhos eram executados por alunos, professores, pesquisadores visitantes e da própria Fundação. Esses trabalhos e, principalmente, seus resultados, começaram a chamar a atenção das principais agências de fomento do país, inclusive a FAPESP, e de outras instituições no exterior.

Poucos anos depois, em 1972 mais precisamente, a estação de rastreamento se trasformaria no Instituto de Pesquisas Meteorológicas, mais conhecido pela sua sigla: IPMet, destinado a se tornar pioneiro no país na área de radar.


E como tudo aconteceu


Em 1970, a FAPESP patrocinou a vinda ao Brasil do cientista James Weinman, da Universidade de Wisconsin, dos Estados Unidos, para avaliar as ações que haviam sido levadas a efeito pela entidade até aquele momento, e apresentar recomendações para novas iniciativas no campo da meteorologia.

Conhecedor dos trabalhos desenvolvidos na estação de rastreamento de satélites da FEB, o bauruense Oscar Sala, que era o diretor científico da entidade àquela época, além de um entusiasta do desenvolvimento da meteorologia no estado de São Paulo, estendeu a visita de Weinman a Bauru para contato com os cientistas locais.

Como resultado das reuniões entre Weinman e o grupo local, liderado pelo cientista Roberto Vicente Calheiros, foi sugerido pelo primeiro, a compra e instalação de um radar meteorológico com objetivos tanto de pesquisas, quanto operacionais.

O equipamento, de custo relativamente baixo, se instalado em Bauru, permitiria o monitoramento de boa parte do território paulista, graças á localização do município em área central do estado de São Paulo. Ao grupo da FEB caberia a liderança e responsabilidade pelo projeto.

Objetivo abraçado, em 1972, é oficialmente criado o Instituto de Pesquisas Meteorológicas, que se tornou conhecido como IPMet. O cientista Roberto Vicente Calheiros foi convidado a assumir a direção, aceitando o cargo de imediato.

Nesse mesmo ano é apresentado á FAPESP o projeto RADASP - Radar em São Paulo, que o aprova em 1973, com a participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico-BNDE.

Graças aos recursos disponibilizados, o IPMet ganha, em 1974, o seu primeiro radar meteorológico. Foi o primeiro radar do Brasil e, provavelmente, do Hemisfério Sul. O equipamento, um radar banda-C, é instalado em área onde, atualmente, encontra-se instalado o Serviço de Informática da Faculdade de Engenharia do campus da UNESP, na Vargem Limpa, em Bauru.

Radar banda-C e primeira sede na Vargem Limpa


A prestação de serviços inicia-se quase que simultaneamente, com a divulgação de boletins diários pela Rádio Eldorado de São Paulo, parceira de primeira hora.

A transferência de dados aos setores produtivos da sociedade inicia-se em 1976, quando foi estabelecida uma parceria com as Usinas Barra Grande e São José, para o fornecimento de informações de radar. No ano seguinte nova parceria é estabelecida, desta vez com a CESP, Companhia Energética de São Paulo.

Os bem sucedidos resultados de trabalhos e pesquisas desenvolvidas no Instituto, desde sua fundação, garantiram outros importantes investimentos por parte de órgãos governamentais, como ocorreu em 1978, quando a FINEP, agência de fomento do governo federal, liberou recursos que garantiram a construção da nova e definitiva sede do IPMet, na Vargem Limpa, para a qual o Instituto se mudou em 1980.

Esses bons resultados garantiram também o estreitamento de laços com instituições internacionais, através de convênios, como os estabelecidos com a Universidade de Quebèc, em Montreal, e do Conselho de Pesquisas de Alberta, também no Canadá, que propiciaram o intercâmbio para aperfeiçoamento de técnicos do IPMet.

Outras instituições de renome também firmaram parceria com o Instituto. Dentre essas podemos destacar a Nasa, a Agência Espacial dos Estados Unidos, Universidade Paul Sabatier, da França, Universidade Essex, do Reino Unido, Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, de Portugal e Observatório Geofísico de São Petersburgo, da Rússia.

Importante destacar que graças ao convênio de cooperação com o Conselho de Pesquisas de Alberta, uma corporação “da coroa”, o radar de Bauru é digitalizado, sem qualquer ônus para a FEB. A digitalização, concluída em 1981, aumentou significativamente a capacidade do equipamento.

Os resultados positivos alcançados até então deram origem ao projeto RADASP II, apresentado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, Universidade de São Paulo - USP, e Universidade Estadual Paulista - UNESP. Esse projeto garantiu a compra de um computador com grande capacidade de processamento de dados, topo de linha na época, denominado VAX 780, um dos primeiros com estas características a chegar ao país, no ano de 1987.

Em 1988, a FEB, e consequentemente o IPMet, são incorporados pela UNESP. Também nesse ano o IPMet, em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas-IAC, apresenta o projeto denominado CIIAGRO, sigla para Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas, implantado no Instituto Agronômico de Campinas, importante centro de apoio ao pequeno produtor agrícola.

No ano seguinte, 1989, o IPMet participa da elaboração do projeto do SIPMET, o Sistema Paulista de Meteorologia, cujo objetivo principal era o de prover o estado de São Paulo com informações meteorológicas confiáveis e passíveis de serem disseminadas aos usuários em tempo hábil para a tomada de providências pelas autoridades competentes, no sentido de proteção à vida, no caso da ocorrência de eventos severos.

Em 1992, o antigo radar, em funcionamento por dezoito anos, é substituído por um equipamento mais moderno, um modelo banda-S, com efeito Doppler. Esse equipamento, além da quantificação das chuvas, passa a possibilitar a medição de campos de vento e, em consequência, o oferecimento de dados do deslocamento dessas chuvas. A FINEP, mais uma vez, destinou os recursos necessários ao empreendimento.

Fachada IPMet em Bauru – antena radar banda-S


Dois anos depois, em 1994, um equipamento do mesmo tipo é instalado na cidade de Presidente Prudente, graças a recursos liberados pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo. O equipamento passa a ser monitorado remotamente, a partir do IPMet, em Bauru.

Instalações do Radar em Presidente Prudente


Os dois equipamentos, operando de forma integrada, passaram a permitir o monitoramento de ocorrência de chuvas na maior parte do território paulista, parte do Paraná, Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro, área de indiscutivel importância para a economia estadual e nacional.

Em 2001, o Instituto apresenta três projetos à FAPESP, para o Sistema Integrado de Hidrometeorologia-SIHESP, substituto do SIPMET, que havia sido implantado parcialmente. Os três projetos foram aprovados quanto ao mérito e, em 2005, o primeiro projeto é parcialmente contratado e tratava da modernização dos radares de Bauru e Presidente Prudente.

Em 2006 é implementada a atualização dos sistemas de radares do Instituto, e a disseminação das informações, em tempo real e integradas, passa a ser feita via página eletrônica do IPMet.


Página eletrônica do IPMet


Ainda em 2006, o Instituto redireciona suas prioridades quanto a previsão do tempo, passando a dedicar-se á previsão de curto prazo, para algumas horas, denominada Nowcasting. Mais uma vez o Instituto é pioneiro, já que esse tipo de previsão, baseada em dados de radar, já bem difundida no exterior, não era ainda executada, operacionalmente, no Brasil. A previsão para períodos mais longos foi deixada a cargo do Centro de Pesquisa e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CPTEC-INPE, que a repassa ao Instituto graças a convênio entre as duas instituições.

O redirecionamento foi possibilitado pela implementação de um sistema denominado TITAN, sigla para identificação, rastreio, análise e previsão de eventos potencialmente severos, graças a convênio de colaboração com o National Center For Atmospheric Research-NCAR, sediado em Boulder, Estados Unidos.

Usuários passam a ser alertados da ocorrência de eventos severos na área de cobertura dos radares do Instituto.


Área de cobertura dos radares do IPMet



Imagem de chuvas detectadas pelos radares do IPMet


Em 2007 tem início a oferta de treinamentos voltados, em especial, a membros das defesas civis do Estado de São Paulo, polícias militar e civil, e outros usuários dos produtos de radar oferecidos pelo Instituto, com o objetivo de um melhor aproveitamento das informações nas tomadas de decisões quando de ocorrências meteorológicas que exijam a interferência desses órgãos públicos.


Fotos - treinamentos


Durante toda a sua existência o IPMet realizou diversas campanhas de pesquisas em conjunto com instituições do Brasil e do exterior, o que garantiu sua visibilidade e construção de uma sólida reputação tanto no país, quanto no exterior.

Na busca da interação com a comunidade, o Instituto mantém um programa de visitas destinado a estudantes de qualquer nível, além de outros grupos interessados em conhecer os trabalhos e pesquisas ali desenvolvidos.


Grupos de visitantes


Dedicando-se a uma ciência pouco explorada no país, a meteorologia com radar, o IPMet tornou-se referência na área. Seus pesquisadores são chamados rotineiramente a prestar consultorias a outras instituições quando o assunto é compra, instalação ou treinhamento em radar de tempo.


Utilização das informações geradas


Praticamente todas as áreas da atividade humana são afetadas pelas condições do tempo e podem beneficiar-se das informações meteorológicas para o planejamento e gerenciamento de suas atividades. Dentre as mais importantes podemos elencar: >

  • Defesas civis

  • Agricultura

  • Transporte(aéreo, naval ou rodoviário)

  • Segurança pública

  • Construção civil

  • Turismo

  • Geração e distribuição de energia

  • Recursos hídricos

  • Imprensa

  • Saúde

  • Seguradoras

  • População em geral


A parceria com as defesas civis para acesso a imagens de radar em tempo real, e da emissão de alertas quando da aproximação de tempestades severas, por exemplo, é de fundamental importância para a tomada de medidas visando a salvaguarda de vidas, com a retirada de populações de áreas de risco e proibição de acesso a áreas sujeitas a escorregamentos ou alagamentos.

A população em geral também se beneficia com essas informações já que pode contar com a emissão de boletins atualizados a cada hora, ou menos, no caso da ocorrência de chuvas na área de alcance dos radares. Esses boletins são disponibilizados na homepage da instituição.


Centro de Meteorologia de Bauru


Desde seu início o IPMet dedicou-se à pesquisa e prestação de serviços à comunidade, mas, no seio de uma Universidade com a envergadura da UNESP, as exigências para o envolvimento com o ensino foram se avolumando até culminar, em 2014, com a vinculação à Faculdade de Ciências, onde a instituição, agora transformada em Centro, contribuirá com o Departamento de Física no curso de Meteorologia, iniciado em 2013. O grande diferencial desse curso em relações aos demais, oferecidos em outras instituições de ensino, até mesmo renomadas, será justamente a possibilidade de um enfoque maior em meteorologia com radar e a oferta de estágios e desenvolvimento de trabalhos de iniciação científica na área.